terça-feira, 1 de setembro de 2009

Introdução ao tema: como os moradores da Rocinha se veem nos jornais Extra e O Globo

Quando Kant elaborou um princípio moral universal, ele se absteve da prescrição de ações ideais para situações mais especificas. O jornalista que atua na cobertura da favela esbarra em inúmeros dilemas éticos, que sempre conflitam com o compromisso social que acredita ter.

Seu dia a dia é pautado por um editor, que é subordinado a uma hierarquia que, por sua vez, defende seus interesses enquanto empresa de comunicação – tarefa nada fácil para um profissional que, durante o curso de jornalismo, achou que seria independente ao reportar as informações apuradas para o leitor.

O principal insumo do jornalista é o ser humano. No caso do profissional que cobre a favela, geralmente sua área de atuação é restrita a um poder paralelo ao Estado. Além disso, quem sobe a favela para cobrir um fato tem uma opinião formada sobre aquele lugar e lida com várias questões, como o livre arbítrio e a liberdade de expressão – ambas nem sempre respeitadas nesses locais.

Outro dilema é a realidade dos moradores, que muitas vezes são impedidos de testemunharem contra as barbáries com as quais convivem. É neste cenário que o repórter precisa caminhar para trazer ao conhecimento da sociedade o que acontece em um de seus setores. Então, eis uma das questões mais complexas que envolvem a favela: até onde ela é vista e reconhecida como parte integrante da sociedade? Deste questionamento, surge outro mais complexo: como os moradores da favela se veem na imprensa?

A partir desta dúvida, chega-se a um campo ainda mais específico: a favela da Rocinha. Embora esteja sempre na mídia e seja envolta de certo glamour, a comunidade recebe o mesmo estereótipo das demais favelas: o da violência. É raro haver uma cobertura que fuja deste assunto. A ideia que se tem é que o cotidiano da favela se baseia em drogas, morte e sangue.

Apesar de muita gente “usar” a Rocinha como objeto (político, religioso, de pesquisa, midiático ou jornalístico), ela tem a sua própria história e também a sua própria realidade – que não podem ser conhecidas somente pelas páginas dos jornais. Diante desta situação, torna-se necessário fazer um retorno ao surgimento das favelas cariocas, mais precisamente em 1893, para que seja feita uma análise da cobertura dos jornais impressos da época.

Compreendido como a imprensa se posicionava em relação às favelas, discorre-se sobre o conceito de espaço ou território, já que os moradores da favela sempre foram tachados de invasores – além de representarem risco à saúde e à segurança pública. Outra questão analisada é o termo utilizado para denominar quem mora em uma favela (morador ou favelado?).

Para seguir com o tema, é preciso fazer uma análise da cobertura dos principais jornais cariocas sob a ótica jornalística. Reportagens de diversos jornais cariocas necessitam ser comentadas para que se levantem questões críticas e assertivas cometidas pelos mesmos. Além disso, mostra-se o alarde com o qual a imprensa trata a notícia quando é ela quem assume o papel de vítima.

No fim, chega-se à tarefa – talvez – mais importante deste trabalho: a voz dos moradores da Rocinha. Por meio de demonstração de dez reportagens (cinco do Extra, cinco do Globo), os moradores expõem suas sensações em relação ao que leram. Feito isso, chega-se então à reposta inerente ao tema.


Continua em breve: um pouco sobre a história das favelas.

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