Carlos: Cada caso é um caso. Estigma é algo que atinge a todos de um modo geral. Entretanto, cada pessoa reage de uma forma. A maioria, inclusive, incorpora os estigmas e passa a acreditar, ainda que não verbalize abertamente, que realmente é responsável enquanto morador destas regiões pelas conturbações sociais, marginalidades e crescimento da violência em nosso estado. Há porém, um número considerável de pessoas que no dia a dia trabalham para desconstruir estes conceitos. Mais do que isso: solidificam ações afirmativas no desejo de revertaer esse abominável senso comum.
Rafael: Você acredita que a imprensa contribui com o esteriótipo que a favela vem recebendo desde o seu surgimento (perigoso, anti-higiênico etc.)?
Carlos: Involuntáriamente, sim. Entretanto, é importante ressaltar iniciativas da própria mídia como um todo (ABI, Sindicatos de Profissionais, mídia alternativas e outros) que têm se aproximado bastante destes espaços e contribuído para levar ao conhecimento públicos "outras histórias e notícias", fugindo da cobertura romantica e sem desmentir a presença das mazelas sociais tão comuns na cidade inteira, mas que nas favelas ganham contornos mais dramáticos.
Rafael: O que a imprensa não faz pela favela, mas que poderia fazer?
Carlos: Não sei o que "ela não faz", mas acho que ela poderia incentivar o jornalismo interativo, qualificar as fontes para se tornarem bases de consultas e, com isso, desenvolvendo a geração de notícias, fatos e casos da favela. Aproximar o leitor, ouvinte, telespectador do protagonismo de quem faz a notícia, cooptar a vaidade da juventude como ferramenta geradoura de notícias, tranformando essa estratégia em elemento principal e valorizado dentro destes territórios.
Rafael: O que ela faz que não precisaria (ou não deveria) ser feito?
Carlos: Destacar determinados perfis de "antagonistas sociais", perfis de criminosos bárbaros ou as excentricidades de suas atitudes criminosas. Espetacularizar determinados casos de violência (assalto à Bancos com resgate de Caixas Eletrônicos, por mais de 50 homens, Assalto ou fugas bem sucedido através de túneis, etc.).
Rafael: Qual é a diferença do jornal Rocinha Notícias para a grande imprensa?
Carlos: São diferenças extremas. Primeiro, o RN é um jornal local, de âmbito micro, enquanto a grande mídia cobre toda a cidade. Depois, a "liberdade de imprensa" tão protelada é garantida (na mídia local), desde que se tenha bom senso e cautela. A mídia comunitária é menos de denúncias e mais de comunicados, informações e utilidade pública. A relação veículo-leitores é de muita proximidade e, portanto, sujeita a permanentes conflitos ideológicos e de opiniãoes.
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