terça-feira, 14 de julho de 2009

Entrevista: Mario Sergio Brum, mestre e doutorando em História

Rafael: Até que ponto o termo favelado não soa como algo pejorativo?

Mario Sergio: Embora, em certos períodos da história, alguns moradores de favelas quiseram passar um conotação positiva ao termo, como nos caso da União dos Trabalhadores Favelados, o termo favelado é pejorativo. Ele é uma "descrição" de um tipo de comportamento que seria estranho à cidade, seja a origem rural, étnica, hábitos higiênicos, ou comportamento criminosos. O termo é uma acusação de alguém que não deveria fazer parte da cidade, portanto, está fora de lugar. Tanto que às vezes é usado até como forma de diferenciação interna dentro da favela.


Rafael: Ocorre algum conflito entre a identidade do favelado e o sinônimo que este termo ganhou na sociedade?

Mario Sergio: É uma categoria construída pela sociedade e também pelos que dela fariam parte. Historicamente, o termo assume significados diferentes. Como falei acima, existiram aqueles que querem passar um conotação positiva ao termo e os que o utilizam de forma acusatória. É uma categoria em disputa sobre o seu significado. Por exemplo, esta identidade é formada tanto pelos moradores, que se identificam com a sua comunidade quanto pelos demais agentes, como Estado, Imprensa, etc. è uma via de mão dupla entre os moradores, que percebem características comuns entre si (o fato de morarem num mesmo local, de sofrerem discriminação por isso) e o conjunto da sociedade, que atrivbuem a um grupo esta identidade.

Rafael: Qual é o mapeamento histórico que pode ser feito até que se chegue ao atual significado do termo favelado?

Mario Sergio: Fiz isso na minha dissertação de mestrado, no capítulo 2 (veja aqui). É um apanhado de toda esta discussão.

Rafael: Fale um pouco sobre a imagem do favelado enquanto morador de uma comunidade carente.

Mario Sergio: É difícil aplicar este termo comunidade carente, pois a pobreza urbana não se restringe às favelas e em muita destas já há uma infra-estrutura de serviços às vezes até superior às médias da cidade, por isso este termo não me parece muito correto, e muitas lideranças comunitárias o criticam.

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